O plágio em trabalhos de culminação de curso – uma prática pouco ética – em
universidades moçambicanas tem sido um denominador quase que comum. Os
estudantes na sua maioria forma-se, porém tornam-se fobicos em relação a
escrita de suas monografias, o que podia ser amigo dos académicos torna-se
grande inimigo. O que devia durar pouco tempo, leva mais tempo do necessitado. Tal
como podemos ver, recentemente, foi publicado um estudo por Peter
Coughlin que
dava conta que cerca de 75% de teses nas principais
universidades moçambicanas têm plágio.
Mário Fonseca, docente da Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane |
Nesta esteira
conversamos com docente universitário e investigador Mário Fonseca e de lá
ficamos adentro de algumas nuances que demarcam esta problemática de cabelos
brancos. Nas próximas entrelinhas, Fonseca compartilha connosco a sua
experiencia como docente da disciplina Metodologia de Investigação Cientifica –
MIC bem como as técnicas por ele usadas de modo a controlar o nível de plágio
em trabalhos realizados na sua cadeira.
Que temáticas são lecionadas
semestralmente na cadeira de metodologia de investigação científica?
A primeira tem a ver com as bases de
investigação em ciências sociais. Como a investigação começou a fim de
compreendermos os paradigmas deste campo de estudo.
Depois evolui-se para a pesquisa em si,
pensada de forma teórica, isto é, o que um pesquisador deve ter em conta para
fazer a investigação. Quais são as etapas que nós precisamos cumprir para que
nos considerarmos que estamos a fazer um trabalho de investigação? Como é que podemos
identificar um problema científico? Estas discussões ajudam-nos a compreender o
que é um problema científico e outro que não seja desta natureza até chegarmos a
fase em que o estudante sabe formular hipóteses, situar o seu discurso dentro
de um paradigma de pesquisa, esteja enfim habilitado a ir para o campo.
Embora não tenhamos tido tempo para que o
estudante vá ao campo, temos feito um esforço para que está etapa seja
praticada. O estudante recolhe informações e produz um relatório contendo a
interpretação dos resultados e a sua respetiva conclusão.
De forma resumida podemos dizer que temos
três etapas nomeadamente: A primeira é ensinar os estudantes como é que surgem
os métodos. A segunda é aquela em que nós ensinamos a parte teórica: o que é um
trabalho científico? A terceira e última é a Recolha de dados para a sua
posterior interpretação em um relatório de pesquisa.
As temáticas ajudam ao
estudante a compreender a importância de uma pesquisa científica?
Essa pergunta seria mais complicada se
perguntasses em que medida, mas dito desta maneira, naturalmente que ajuda nem
que seja em 20%.
Na avaliação dos trabalhos
que recomenda aos estudantes, usa alguma técnica de deteção de plágio?
É preciso reconhecer que não é fácil
controlar o plágio. Dependendo do nível em que o estudante plagia. Porque
existe uma espécie de “plágio” em que provavelmente o estudante por falta de atenção
deixa de referenciar, mas não sendo este um comportamento intencional. Porém
atenção que este tipo de plágio, não pode ser detetado, no mesmo trabalho, mais
de duas vezes.
Em segundo lugar, existe um plágio mais fácil
de identificar, aquele que consiste em copiar um trabalho inteiro e ir mudando
alguns aspetos aqui e acolá. Não obstante seja a coisa que menos desejo dos
meus estudantes, anualmente, sem falha, reprova um estudante por plágio. E os
casos que eu encontrei são os de grandes quantidades de páginas plagiadas. O
estudante pega, por exemplo, a seguinte frase: “educação politécnica e a escola de trabalho em Moçambique” e troca
o Moçambique por Gaza.
Agora com o advento da internet ficou um
pouco mais fácil identificar plágios. Há pogramas específicos que ajudam para tal.
E o que eu uso é o motor de busca Google,
isto é, o trabalho de que suspeito ter algum tipo de plágio, copio os trechos e
coloco-os no Google para ver a correspondência ou semelhança. Caso encontre uma
correspondência igual ou acima de 50 % no sentido e na forma, este é um trabalho
que nem vale a pena considerar.
Qual é a Critica que
faz a iniciação científica na Escola de Comunicação e Artes?
O tempo nunca é suficiente para fazermos
nada. O tempo não é suficiente para ensinar um estudante a investigar, mas o
principio é que nem todos os estudante se mostraram apaixonados com o ramo de
pesquisa em sim. Se os desenhadores do currículo pusessem a enfase na iniciação
cientifica. Isso iria lesar os outros que estão ali mas somente querem ser
apresentadores de televisão de noticiário, então é preciso colocar uma dose em
tudo.
O
tempo não é suficiente, mas é o tempo que temos que saber trabalhar dentro das
limitações. Agora, se nós estamos num bom caminho, eu acho que nós estamos a
aprender. Na minha curta experiencia na lecionação desta cadeira – Métodos de
Investigação Cientifica – primeiro comecei com os trabalhos escritos apenas e
depois há o problema que não conseguimos controlar em que medida é o trabalho
pertence ao estudante, então introduzi a apresentação e defesa do trabalho
escrito. Porquê?
Porque apercebi-me que no fim do curso. Quando
os estudantes vão defender a monografia eles enfrentam mais dificuldades de
apresentação e defesa. E as dificuldades, muitas vezes não porque o estudante
não tem conhecimento, isto sim, porque ele nunca falou em público. Nesta lógica
realizamos uma oficina de comunicação com este intuito e um pouco mais para
conhecer quem são aqueles que têm inclinação para a área de pesquisa e os
opostos.
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