Sou um cidadão daqui.
Acompanhei cada marca da nossa evolução rumo à divisão e ao individualismo. Uma
falsa-evolução.
No meu tempo, a pobreza
era divida no estilo de um por todos e todos por um. Actualmente há os seus
merecedores. Tudo porque fomos confundidos com a história de “classes”. Assim, construímos
um mundo onde há classes baixas, medias e altas. Cada uma com os seus privilégios.
Somos formatados a pensar que a raça A é melhor que a raça B. Somos ensinados a
desacreditar em nós mesmos. É por isso que para os problemas locais, soluções
de fora.
No meu tempo, sobretudo
quando era jovem, manifestávamos em uníssono sempre que os nossos direitos
fossem usurpados. Não fazíamos por nós. Não fazíamos para que nos chamassem heróis.
Fazíamos porque tínhamos uma visão do futuro. Hoje há tantos males a
acontecerem, mas os jovens são tão neutros, tão invisíveis e insensíveis. Eles conhecem
os problemas, murmuram, mas guiam-se pelo “laissez faire”.
No meu tempo, a dor era
compartilhada. Hoje a dor é individualizada…”salva-se quem poder”. O nosso
problema é egoísta: chama-se estomago. É por conta dele que trocamos o coração
pela pedra. A regra é: primeiro EU, segundo EU, terceiro EU e a conta vai
crescendo com os EUs sem ELES.
No meu tempo não vivíamos camuflados
da nossa verdade: eramos nós mesmos. Hoje há tanta falsidade, há tanta vida de aparências,
há tanta mentira. As pessoas fazem publicidade daquilo que não são. As pessoas
preferem, com medo do seu verdadeiro fantasma, estar alcoolizados a lúcidos. Porque?
talvez se perderam as referências. Socorrooo!
No meu tempo reuníamo-nos
em volta da fogueira e passávamos horas a fio a partilhar estórias e experiências.
Privilegiávamos, seriamente, a ideia de uma interacção interpessoal. Hoje,
quase, não há isso: os nossos olhos são o ecrã e os nossos dedos são a boca. Estamos
numa era em que muito se escreve e pouco se fala. Ainda assim, os índices de
boa escrita são incipientes.
Parece que éramos felizes
e não sabíamos….
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