Uma vez,
Fernando Pessoa o poeta, o filosofo e escritor português escreveu o seguinte: “Quando
matamos um sonho, matamo-nos a nós mesmos, pois um sonho é o que temos de
realmente nosso”, e eu quero reinventar isso substituindo o sonho pelo
talento ou habilidade ficando da seguinte maneira: “Quando matamos um talento/habilidade,
matamo-nos a nós mesmos, pois um talento/habilidade é o que temos de realmente
nosso”. Por vezes inúmeras, deparamo-nos com situações que nos são
desagradáveis, pois, nestes momentos sentimo-nos forçados a fazer coisas que
não se coadunam ao nosso princípio, e se olharmos pelos impactos que isto trás,
perceberemos que é totalmente negativo, porque? – não há nisso o amor
e entrega.
A história nestes trâmites vem da província da Zambézia,
distrito de Nicoadala há trinta quilómetros da cidade capital – Quelimane. Um
jovem estudante (ou aluno como queiram) do nível médio identificado por Pedro
era caracterizado por uma inteligência incrível, ele lia os textos académicos e
rapidamente apreendia de modo interpretativo o conteúdo e partilhava-os com os
seus colegas que tinham dificuldades em compreender uma determinada matéria.
Era um rapaz invejável, no seu percurso académico brilhou,
pois nunca conheceu o termo “reprovar”, ele transitava com notas excelentes,
até que depois de concluir o nível secundário e médio respectivamente, ele
pensou em concretizar o seu maior sonho – ser professor da língua “portuguesa”
– como sabemos, para ser um bom professor
não basta apenas uma formação técnica, é preciso, ainda, uma formação superior
e, assim queria o Pedro, formar-se numa universidade moçambicana “renomada”.
A sua família deu-lhe sempre apoio moral e financeiro de modo
que ninguém matasse os seus sonhos, suas habilidades e ideais para, se calhar,
melhorar a tão dita qualidade de ensino num país que precisa desenhar boas políticas
para a concretização deste plano que, até então, embora dos avanços no campo da
educação, é uma autêntica utopia.
Lembremo-nos daquelas duas palavras que destaquei na
introdução (amor e entrega). Pedro
ao seguir o seu verdadeiro sonho fá-lo-ia com Amor e Entrega que, são as
chaves necessárias para o sucesso de qualquer um, em qualquer área e qualquer
coisa que for a fazer.
Chegou aquele dia, em que Pedro concorreu para a tal dita
renomada Universidade moçambicana para o curso de português no nível de
licenciatura, um mês depois, os resultados do exame foram publicados e, ele
havia sido aprovado. Semanas depois estava o Pedro, sentado numa sala de uma Universidade,
era o seu primeiro dia de aulas. Estava ansioso, a sala era tão diferente
daquela que estava habituado, tinham ventoinhas por cima, um quadro branco em
sua frente e carteiras em forma de secretarias. Como devem idealizar era uma
coisa mesmo nova.
Durante os dias, semanas, e meses seguintes, Pedro sentia que a
sua boa habilidade de interpretar os textos académicos, a habilidade de raciocinar
e reflectir sobre o que estuda estava reduzindo de mansinho, como consequência
ele tirou notas muito baixas que nunca na sua vida tinha tirado. Por isso ele
pensou: ”talvez seja porque sou novo neste nível, as coisas podem vir a
melhorar”. Pelo contrário, cada dia que passava, mais o Pedro se afundava
naquele buraco que lhe roubava a criatividade e, sobretudo a inteligência.
Isso foi acontecendo, até que, um dia, ele parou para pensar
bem sobre o caso. Na sua longa e produtiva reflexão, chegou a seguinte
conclusão:
1.
Na universidade em que estudo, 80% dos meus professores obrigam-nos a uma
fiel memorização dos textos das fichas que nos dão, e como se não bastasse, devemos
responder na avaliação tal como vem escrito na ficha. Caso procures interpretar
por tuas próprias palavras vai te valer uma nota preta.
2.
Durante as aulas, os professores, na sua maioria, mostram não estar
preparados para a matéria de que querem que tenhamos domínio, isto é, eles
improvisam tudo.
3.
O aluno não é respeitado perante a contribuição que dá na aula, o professor
olha-o como adversário, se este, mostrar que sabe um pouco além do professor.
Estas são algumas conclusões do Pedro. A pergunta que eu vos
faço agora é a seguinte: olhando os problemas do Pedro como de muitos outros
estudantes do nosso país, que futuro
lhes aguarda?
Reformemos as nossas escolas, e não teremos que reformar grande coisa nas
nossas prisões”
( John
Ruskin )
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