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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

ONDE ESTÁ A CAPULANA?

A cultura não se obtém com um labor obtuso e intensivo e é antes o produto da liberdade e da ociosidade exterior. Não se adquire, respira-se. O que trabalha para ela são os elementos ocultos.

Sou um objecto, que desde o tempo primórdio, nasci em todas as comunidades, servindo de património de todos e todas que comigo encantam-se. Venho de muito longe, mas não de um lugar sem nome, pois, é da terra que nasço, partindo de uma pequena semente lançada na terra pelo árduo trabalho do homem, passa-se o tempo, fazem-se processos, e eu, já estou pronta. Pronta para ser usada cuidadosamente, lavada e passada a ferro para que as desconhecidas gerações conheçam quem eu sou e me valorizem com a mais infinita estimação.

Há algum tempo atrás, eu era das mulheres do campo e da cidade em toda a sua extensão, mas agora, as que mais me privilegiam são as mulheres do campo, e na cidade, só são as de origens mais antigas que de mim querem saber. A pena habita dentro de mim, as gerações modernas estão consumadas pela cultura estrangeira, esquecendo a sua verdadeira identidade que ilustra a africanidade, nas suas bocas o meu nome não passa, e se passa, é como um vento trazendo ideias transgressoras. E é daí que tão grande que sou, me torno numa Bulizinha, numa Sainha, estando tudo no grau diminutivo.
Não nego que seja envolvida pelas culturas estrangeiras, acredito que a minha valorização e promoção vem disto, vejo-me em grandes eventos, digo do desfile de moda, bordando o corpo dos africanos e não só nos locais longínquos da minha origem, fazendo com que esta gente me conheça, fazendo também que eu não seja apenas para alguns, mas para todos.

A infelicidade toma conta de mim, quando as pessoas fazem-me numa peça sem valor. Há gentes que queiram conviver comigo, prometem por si mesmas que se me alcançarem farão de tudo para o meu bem-estar, mas não tem como, tudo porque as possibilidades não são suficientes para o meu arrecadamento, e outras com possibilidades não vêm o quanto sou importante. Logo depois são os desprezos, mãos tratos entre outros que dia a pós dia, vou passando.

Vejam, do jeito que estou a ser inovada, agora posso ser e estar grudado no pulso em formato de pulseiras e também posso ajudar-te a carregar os teus matérias de escola em formato de pasta, posso refrescar-te em tempos de calor em formato de Pantalonas, Saias, posso proteger os seios das mulheres em formato de sutiãs, e ainda posso muito mais.


Tu aí! Queres que eu exista e continue a torna-vos lindos? Então clamo do vosso apoio, digam a todos da importância que tenho, digam ainda que mereço um tratamento especial, que eu sou a identidade cultural deles. Aos que querem continuar a desvalorizar-me, digo-lhes que ainda resta uma porção visível de tanta felicidade em mim, porque em cada país do continente que me viu nascer e crescer, existem datas em que as mulheres, até os homens me emancipam com tanta elevação, falo de datas, como se fosse só em estas datas que sou valorizada pelo meu povo. Muito pelo contrário, nos mais simples dias, me torno companheiro de todos nos seus locais de trabalho, compartilhando sentimentos e emoções de todos e isto vai contagiando as novas gerações. A todos que lutam pelo meu bem endereço-lhes um grande aceno de apreço, pois são com estes feitos que continuarei viva para sempre no seio do mundo em geral, e em particular, no seio da comunidade africana.

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