Sou uma criança. Nunca
conheci o meu pai. Minha mãe disse-me que ele negou responsabilizar-se por mim
e foi-se embora sem deixar pistas. Hoje tenho 5 anos e todos dias, sem
excepção, seguro na mão da minha mãe, que é deficiente visual, e vamos pedir dinheiro
nas esquinas da cidade que me vou nascer.
É preciso ter muita sorte
para conseguir algum para comer. Em cada 100 transeuntes somente um dá-nos
alguma moeda. É como se no lugar de coração as pessoas tivessem pedra. Nós só queremos
um pouco de dinheiro para podermos ter comida. Comida que vocês despejam grandes
quantidades naqueles contentores da rua em que eu e minha mãe pedimos esmola.
Também tenho um sonho.
Gostaria de estudar e ser professora, mas não posso porque a rua toma mais o
meu tempo e nega-me um direito importante: a educação. Já tenho 15 anos e nunca
conheci a escola, por isso não consigo ter um emprego. Não tenho escolha, nós
(eu e minha mãe) precisamos de dinheiro para “sobreviver”. Vou ser uma “prostituta”.
Não me culpem pela escolha
que fiz. Não tenho culpa de nascer numa família pobre e num país onde não se
pode ascender quando se não tem condições. Não pedi para nascer num lugar onde
as crianças são, simplesmente, marginalizadas em diversos níveis. Não pedi para
nascer num lugar onde a riqueza é para poucos e a pobreza é para muitos.
A prostituição é a minha
profissão. Se eu fosse homem seria um ladrão. Você faria diferente? Se não
conheces as minhas dores e lutas então não me culpes e não me julgues pelo que faço…
Só quero sobreviver!
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