Autor: DANIEL A. NGUETSE - Estudante de Jornalismo ECA-UEM |
O CRESCIMENTO das
igrejas na sociedade moçambicana, sobretudo na cidade de Maputo, é um fenómeno
incontestável. Deste fenomenal crescimento das igrejas cita-se a Igreja
Universal do Reino de Deus (IURD). Esta, na sua expansão transnacional,
estabeleceu-se em Moçambique nos primórdios da década de 90 do século XX, porém,
regista uma expansão nos bairros da capital que superou as igrejas protestantes
seculares. Em contrapartida, as actividades da IURD são severamente criticadas,
mas em paralelo regista-se um crescimento surpreendente em relação ao número de
locais de cultos e de crentes. Portanto, este aparente paradoxo levou-me a
pensar sobre os factores que podem explicar o crescimento da IURD. Sendo
estudante duma escola de comunicação, interessou-me analisar o papel dos meios
de comunicação ao serviço desta igreja.
É notória a importância
atribuída aos meios de comunicação na Universal. A IURD tem emissores de
televisão e de rádio, um jornal de publicação mensal e um portal na Internet,
colocando a igreja para o mundo. Nos seus primeiros anos em Moçambique, antes da
aquisição da Rede Miramar, tinha um espaço de antena na RTK e, em 1998, comprou
a Rede Miramar.
É verdade que depois da
compra da Miramar verificou-se um aumento de templos da IURD na cidade-capital,
mas isso não pode ser suficiente para explicar este fenómeno, olhando apenas no
papel dos meios de comunicação, por duas razões. 1) quando a IURD
estabeleceu-se em Moçambique, no mesmo período também, estabeleceram-se outras igrejas
de origem brasileira, o caso da “Pentescostal Deus é Amor” e outras, que divulgavam
suas mensagens nas mesmas condições. Entretanto, hoje praticamente já não existe;
2) actualmente, existem algumas igrejas cristãs e muçulmanas com canais
televisivos, porém não tem a expansão e aderência que a IURD regista. Olhando
este facto, é suficiente para concluir que a “Universal” tem uma peculiaridade.
Nos canais da IURD são
frequentes as imagens de cenas de terrorismo e violência aliadas ao aumento de
desemprego. Concebe-se o mundo como um campo de batalha que se expressa através
da televisão. O sofrimento metaforizado na bíblia não comove tão directamente
os telespectadores e fiéis, tal como apresentam o relacionamento conjugal em
crise expressa em cenas de discussão, choro e desespero etc. No entanto, ao
contrário das telenovelas, os dramas veiculados pela IURD não apresentam um
desfecho narrativo, mas propõe ao telespectador uma solução, caso se ele
procure um templo. A interactividade desenvolve-se quando o fiel ou o
espectador comove-se e identifica-se com o drama transmitido e vai em busca de
uma solução em um templo próximo. Com base nessas exibições, busca-se oferecer
ao telespectador um refúgio ou uma explicação para essa desordem. Esta seria a
estratégia “problema-reacção-solução”. Apresenta-se
um problema para causar certa reacção no público e oferece-se uma solução.
Assim sendo, na minha
análise, aos meios de comunicação reservo um papel secundário no crescimento da
IURD, pelas razões que já apresentei. Logicamente, este pode ser um instrumento
de atracção de novos membros. Ainda que se considere que alguns crentes da IURD
sejam atraídos pelos programas radiofónicos e televisivos, é indiscutível que
se considere como relevantes os factores que favorecem a manutenção dos
crentes, ou seja, o que a Universal
oferece, certamente diferente, para que os crentes voltem no dia seguinte?
Portanto, os meios de
comunicação ao serviço da IURD são apenas um mecanismo de divulgação, como
acrescenta Campos, um messianismo sem uma agência de notícias não dispõe dos
meios para atingir o seu fim.
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