A importância
da obra de Carlos Cardoso não reside apenas no resultado prático da sua acção.
Cardoso trabalhava na transcendência. Ela mexia no tempo que está dentro do
tempo. Como quem lida com sementes.
O último
jornal que ele criou o “METICAL” era mais do que um simples órgão de
informação. Era um suporte para criar e semear pensamento. Um instrumento para
encontrar soluções, uma espécie de lanterna entre a escuridão e o silêncio.
O jornal não
caminhava sozinho. Não se limitava a fazer a denúncia, não apelava aos chamados
órgãos “competentes”. Ele intervinha no quadro de uma estratégia geral que
Carlos Cardoso usava para mudar o mundo. O pequeno jornal agia em conjunto com
os espaços de debate público (o Fórum METICAL), e articulava com a sua acção como
deputado na Assembleia da Cidade. Não bastava que fossemos leitores. Cardoso
nos convidava para irmos com ele para os territórios que caminhavam junto com o
seu pequeno jornal.
Encontre
reunidas todas as edições do METICAL do seu nascimento ao seu desaparecimento.
Este era um projecto que ele próprio concebera e que, agora um grupo de amigos
acabou concretizando. Este é o METICAL. Aqui está o corpo. Aqui está também a
tradução de uma alma que transcende do registo escrito. A generosidade de quem
se entregou aos outros, de quem nunca esperou outro retorno que fosse a entrega
dos outros, de quem soube ser um homem bom e puro num mundo impuro e à espera
de ser melhor.
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