Acompanhei com algum desagrado a
noticia publicada na penúltima edição do jornal Savana, que a Directora geral
do Instituto Nacional dos Transportes Terrestres - INATTER, Ana Dimande[1],
leva para casa cerca de meio milhão mensalmente, e isto lembrou-me o pensamento
de Mia Couto: “A maior desgraça de uma nação
pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos”. Ele tinha e continua
tendo razão intemporal neste seu pensamento simples, mas, com uma semântica
muito profunda.
Perfazem treze funcionários com títulos
salariais graúdos. Fazendo, por isso, a utilização indevida das antigas percentagens
de abonos sobre o salário base, o salário bruto mais baixo de entre os 13
funcionários da Direcção Geral do INATTER é de 180.467,28 Meticais. No total, os
sortudos auferem mensalmente um salário acima de 3 milhões de Meticais.
Só o orçamento para pagar estes 13 funcionários
caberia para pagar ordenado de mais de 670 trabalhadores que usufruem o salário
mínimo na fasquia de 3.500 meticais. Este fenómeno parece mostrar-nos que há
falta de vontade dos visados em adoptar medidas de austeridade rígidas. Vale
lembrar que a economia de Moçambique não é feita pelos dirigentes que estão no
topo. Ela é desenvolvida, de forma activa, pelos que estão na base:
professores, enfermeiros, camponeses, entre outros, que, regra geral, recebem
mal. Como torná-los motivados?
A política salarial é um instrumento
que serve para motivar o proletariado, porém, quando ela é voltada para as
classes altas, com valores tão altos como estes, cria descontentamento.
Moçambique produz para os moçambicanos e não para alguns. Quanto custa 25
quilos de arroz? 20 Litro de óleo? 10 Quilos de batata? 20 Quilos de farinha?
Leite? Transporte? Etc. O salário mínimo deve ser ajustado em função das
necessidades realísticas, básicas e universais, dos seres humanos. Então, por
exemplo, com 3500, conseguimos cobrir isso?
É
preciso deixar de dar “muito” dinheiro aos “chefes”. Sabemos todos que, embora
receba um valor alto, goza também de inúmeras regalias desde combustível,
alimentação, habitação, assistência médica medicamentosa, etc. Assim
perguntamos: porquê tanto dinheiro se as suas necessidades básicas e universais
estão encobertas pelas regalias? Não estou com isso a dizer que não recebam,
porém que se adopte, urgentemente, medidas de austeridade rígidas. Porque casos
parecidos, podem estar a acontecer em outros sectores ditos “gestores de
receitas”.
[1] O mesmo
Jornal publicou esta semana que a directora Ana Dimande foi afastada do INATTER
em substituição da então directora provincial dos Transportes e Comunicações de
Nampula, Ana Paula
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