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sábado, 18 de abril de 2015

PAISES POBRES PRODUZEM RICOS - DISSE Mia Couto


Acompanhei com algum desagrado a noticia publicada na penúltima edição do jornal Savana, que a Directora geral do Instituto Nacional dos Transportes Terrestres - INATTER, Ana Dimande[1], leva para casa cerca de meio milhão mensalmente, e isto lembrou-me o pensamento de Mia Couto: “A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos”. Ele tinha e continua tendo razão intemporal neste seu pensamento simples, mas, com uma semântica muito profunda.

Perfazem treze funcionários com títulos salariais graúdos. Fazendo, por isso, a utilização indevida das antigas percentagens de abonos sobre o salário base, o salário bruto mais baixo de entre os 13 funcionários da Direcção Geral do INATTER é de 180.467,28 Meticais. No total, os sortudos auferem mensalmente um salário acima de 3 milhões de Meticais.

Só o orçamento para pagar estes 13 funcionários caberia para pagar ordenado de mais de 670 trabalhadores que usufruem o salário mínimo na fasquia de 3.500 meticais. Este fenómeno parece mostrar-nos que há falta de vontade dos visados em adoptar medidas de austeridade rígidas. Vale lembrar que a economia de Moçambique não é feita pelos dirigentes que estão no topo. Ela é desenvolvida, de forma activa, pelos que estão na base: professores, enfermeiros, camponeses, entre outros, que, regra geral, recebem mal. Como torná-los motivados?

A política salarial é um instrumento que serve para motivar o proletariado, porém, quando ela é voltada para as classes altas, com valores tão altos como estes, cria descontentamento. Moçambique produz para os moçambicanos e não para alguns. Quanto custa 25 quilos de arroz? 20 Litro de óleo? 10 Quilos de batata? 20 Quilos de farinha? Leite? Transporte? Etc. O salário mínimo deve ser ajustado em função das necessidades realísticas, básicas e universais, dos seres humanos. Então, por exemplo, com 3500, conseguimos cobrir isso?

       É preciso deixar de dar “muito” dinheiro aos “chefes”. Sabemos todos que, embora receba um valor alto, goza também de inúmeras regalias desde combustível, alimentação, habitação, assistência médica medicamentosa, etc. Assim perguntamos: porquê tanto dinheiro se as suas necessidades básicas e universais estão encobertas pelas regalias? Não estou com isso a dizer que não recebam, porém que se adopte, urgentemente, medidas de austeridade rígidas. Porque casos parecidos, podem estar a acontecer em outros sectores ditos “gestores de receitas”.



[1] O mesmo Jornal publicou esta semana que a directora Ana Dimande foi afastada do INATTER em substituição da então directora provincial dos Transportes e Comunicações de Nampula, Ana Paula

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